(foto: pesquisa google)
Sempre notei pessoas
derramando considerações sobre a Umbanda, falando coisas que não coincidem com
a verdade (para não dizer preconceituosas). Geralmente tememos aquilo que não
conhecemos bem, creio, então, que por isso tanta gente gasta tanto tempo e
energia difamando a Umbanda. Já ouvi muitos comentários, antes e depois de
entrar para essa religião: que a Umbanda é algo ruim; que nos terreiros se faz
o mal para os outros; que os guias e Orixás são, na verdade, demônios; que
terreiro é lugar de pouca luz, que guia da Umbanda é ser inferior... Nossa, se
eu for colocar aqui todos os absurdos que já ouvi, escrevo um livro!
Entendo que tais
pensamentos são resquícios da época do Brasil Colônia, quando tudo o que fosse
relacionado aos negros era impuro, proibido, sujo, demoníaco. Os próprios
negros eram considerados “sem alma”! E como é que uma religião praticada por
seres “sem alma” seria algo bom? Pois é... Mesmo após séculos, muitos de nós
ainda estão presos a estes conceitos, mesmo que inconscientemente. Faz-se piada,
se julga (e condena!) tanto os médiuns quanto os guias; olha-se com escárnio
para quem se assume Umbandista, como se fôssemos simples ignorantes, selvagens,
tolos...
Isso é de partir o
coração e entristecer a alma!
É por isso que escrevo
estas linhas. Não com o intuito de mudar a mente das pessoas, pois não sou tão
pretenciosa! Também não tenho a intensão de agredir quem quer que seja. Estas
linhas são apenas uma declaração de amor! Uma forma de mostrar o outro lado da
moeda, uma forma de mostrar o olhar de alguém que pouco sabe, mas que muito já
sentiu dessa maravilhosa religião!
Sei que é pouco, sei
que não conseguirei descrever aqui tudo o que a Umbanda é, toda a sua história,
sua carga cultural, sua luta e sua sobrevivência através de todo esse
preconceito. Não conseguirei, é verdade, demonstrar todo o amor e caridade que
a Casa que frequento derrama sobre todos que ali buscam um conselho, uma cura,
o seu próprio caminho... Mas, descreverei, de forma simples, a visão dessa
filha de pemba, simplesmente apaixonada pela Umbanda, pelo Terreiro que
frequenta, pelo Pai de Santo que a conduz e por todos os seus irmãos e irmãs de
fé!
A Umbanda, pra mim, é a
religião da coragem, entrega, amor... O batuque que chama o Orixá é o mesmo que
exorciza o medo e a angústia. O som que faz o corpo se mover involuntariamente,
é o mesmo que te religa com sua essência, com o Ser Divino que és! Os
movimentos que executas, que já não são mais seus, é a pura manifestação da
força do Orixá em ti! É preciso entrega, pois somente com entrega e confiança
você consegue girar, e girando o Orixá te purifica e te dá forças para
enfrentar a vida. Cada Orixá traz uma mensagem através de sua energia e
movimentos, cada um tem sua história, e, através dela, nos ensinam sobre nossa
própria natureza. Minha mãe Oxum, por exemplo, está me trazendo de volta para
meu sagrado feminino, me recolocando em meu eixo, restabelecendo meu poder
enquanto mulher, criadora, feminina. Mamãe Oxum me mostra que sou mais! Me faz
ver com outros olhos minha essência, meu corpo, minhas vontades, virtudes e
erros! Minha mãe me acalma, me embala e me ensina a contornar, a ser como o rio
que corre manso, calado, com movimentos quase imperceptíveis, para então se
derramar com força e magnitude em forma de cachoeira, demonstrando todo o seu
poder!
E sobre os guias? O que
falar desses seres reluzentes que nos dedicam seu amor incondicionalmente?
Como descrever a
brandura, sabedoria e amabilidade dos Pretos e Pretas velhos? Como descrever
seus olhares de candura, suas palavras sinceras, carregadas de séculos, de
verdade e carinho? Como delinear a segurança que sinto quando me sento aos seus
pés e bebo de suas palavras; quando, como criança, os chamo de vô e vó, os
abraço, e não raramente me dissolvo em lágrimas de conforto?
Igualmente, não tenho
palavras para expor a força e compaixão dos Caboclos e Caboclas, nos trazendo a
sabedoria da natureza. Tão sérios, raramente falam! Mas, falar pra quê? Seus
gestos, sua energia, a cura e o conhecimento trazidos não podem mesmo serem
traduzidos em simples palavras... É preciso sentir, vivenciar, experenciar toda
essa coragem de guerreiro e sabedoria de xamã!
Também temos a sorte de
conviver com a Ibejada, que traz alegria para a Casa!!! Suas brincadeiras,
brigas, gritos, risos são purificadores da alma, calmantes para o coração! Nos
mostram que precisamos da pureza de uma criança para ouvir e entender os
Orixás! Mostram que lá no fundo, nossa criança interior está pronta para sair e
brincar, pular e se divertir! Porque é somente na alegria que somos sábios, é
somente no amor que somos livres!
E como falar do povo
Cigano sem me sentir dançante? Nunca me esquecerei a primeira frase que Pai
Aldo falou quando me viu: “mas é uma cigana todinha!” hahahaha Me orgulho desse
comentário, pois são os Ciganos povo antigo, sábio, alegre! Trazem para o
terreiro sua dança e felicidade! Nos mostram aquilo que não queremos ver, nos
obrigam a sermos verdadeiros conosco e, ao mesmo tempo, leves com a vida!
E os queridos Exús e
Pombas Gira? Tão incompreendidos, tão julgados, tão apontados! Mas eles não
ligam, seguem nos guiando, abrindo nossos caminhos, limpando e fazendo o “serviço
pesado”. Eles são pura doação!! E quem se doa não se importa em ser julgado...
E assim somos nós,
filhos da Umbanda: nos doamos com caridade e amor, apesar de todo julgamento.
Seguimos, mesmo com o coração triste por conta de tanto preconceito. Dançamos,
mesmo chorando; cantamos, mesmo em luto; sorrimos, mesmo cansados; mas,
principalmente, giramos, porque a gira nos une, nos faz fortes, nos traz a
coragem, a força e a fé para prosseguirmos, levando ao mundo a bandeira de
Oxalá!
Paz e bem!
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