Pois bem, cheguei à banca e corri meus olhos pelas prateleiras, mas não havia visto nada sobre meditação. Surpreendi-me com o fato do rapaz que atendia não ter me perguntado “o que era pra você, moça?” logo que entrei. Ele me deixou olhar tudo o que quis, sem falar uma palavra sequer. Era como se eu não estivesse ali. Para muitos isso pode ser considerado falta de vontade da parte dele, mas eu encarei como total respeito pela minha busca, ou talvez ele tenha me visto entrar tão afobada “farejando” algo por sua banca que decidiu estabelecer uma espécie de aposta velada: ou eu buscava sua ajuda para encontrar o que queria, ou encontrava sozinha (o que é bastante difícil visto que não sou freqüentadora assídua daquela banca).
Bem, o jornaleiro me venceu pelo cansaço e eu fui lhe perguntar acerca das ditas revistas. Ele me disse que essas revistas haviam acabado, mas que chegariam na semana seguinte. Desanimei! Porque quando quero algo, quero no momento exato da minha vontade! Oras!! (sim, sou muito caprichosa e imediatista)
Bom, inconformada com o fato, corri os olhos pela banca mais uma vez na esperança dele ter se enganado e eu encontrar como que por mágica um único exemplar das motivadoras da minha curiosidade. Foi quando vi uma série de revistas coloridinhas que me chamaram a atenção. Peguei uma ao acaso e vi que eram sobre filosofia, as revistas se chamam Mentes, cérebro e Filosofia. Lembrei que fazem séculos que não estudo sobre o assunto e resolvi pegar as revistas que tratavam do pensamento dos filósofos que me chamam mais a atenção. Ao todo comprei três revistas: uma sobre os pensadores das almas e das paixões (Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino); outra que tratava sobre a dissolução do sujeito (Foucault e Deleuze) e a terceira sobre o outro lado da racionalidade (Nietzsche e Schopenhauer).
Comecei a degustar minhas novas aquisições pelo exemplar que tratava sobre Platão, que é a prova viva (?) de que quanto mais mordazes mais os apelidos “pegam”.
Claro que a revista trata sobre várias coisas, mas uma que me trouxe boas recordações das aulas de filosofia foi a Teoria das Formas. Lembrei tão bem do Domingos, meu professor de filosofia na universidade, olhando para um aluno (que graças a Deus não era eu) e perguntando com a sua fala em “F” ao tocar a mesa:
- O que é isfo?
Ao que o ingênuo responde com um tom de voz que dizia implicitamente “você é louco”:
- Uma mesa!
Nisso o Domingos olha com olhos acesos de felicidade e responde:
- Não, isfo não é uma mesa!
E dá aquela risada que só ele e o Mutley sabem dar, completando:
- Isfo é sfó um amontoado de madeira e sferro, a mesa de verdade está na sfua cabesfa.
Não preciso nem dizer que todo mundo quis morrer, e esse assunto rendeu a aula toda.
Então, lendo o exemplar sobre Platão cheguei à Teoria das Formas. Na verdade esse nome foi dado pelos estudiosos de Platão, e não pelo próprio.
O filósofo dizia que nada NADA do que vemos, nada nesse mundo é real, é verdadeiro. As coisas que pegamos, fazemos, criamos, não são reais!
(Isso me dá a idéia de bater nos outros com cadeiras irreais! Hahahaha)
Platão dizia que tudo o que existe são cópias do real e que o real está na nossa mente. Ou seja, para tudo o que existe temos em nossa mente um conceito, e que é esse conceito a verdadeira coisa. A idéia que temos da mesa é que É a mesa, o objeto é uma cópia dessa idéia.
Louco? Espere pra ver o resto!
Bom, Platão não se conformava em dizer isso, ele ia além: afirmava que somente as idéias são verdadeiras, e que apenas aquilo que é “ideal” é verdadeiro excluindo dessa Verdade imutável as coisas sensíveis, aquelas que necessitam da nossa experiência para existir. Assim, as ciências exatas seriam a única Verdade que poderíamos experimentar no mundo todo! Afinal de contas um cálculo matemático é o mesmo em qualquer lugar do mundo, e não passa pelos nossos sentidos. Não importa se você acha o quatro um número feio ou antipático, 2+2 sempre serão 4! Sem falar que ninguém nunca cheirou o 4 e nem comeu o 4 (huum... não maliciem!! Estou tratando de coisas sérias!)
Você que é mais sensível e acredita que os sentimentos também podem ser Verdadeiros, não compreenda mal o coitado do Achatado. Ele dizia que para TUDO existe uma concepção ideal, mas nem sempre conseguimos alcançar essa concepção. Por isso que o que é justo pra mim pode não ser justo pra você, o que é belo pra mim pode ser feio pra você. Essas divergências acontecem porque não compreendemos o real significado do conceito de Justo ou de Belo. E por não compreender, por não saber o que são tais conceitos é que precisamos de outra coisa pra comparar (o que não acontece com as ciências exatas). Temos idéia do belo diante do feio, temos idéia do justo ante o injusto, só sabemos o que é grande diante do pequeno, e assim por diante.
Complicado?? Nem tanto.
Sempre que você precisar de uma comparação, tudo o que for relativo, não é Verdadeiro. Ou melhor, VOCÊ que é algo longe do que é VERDADEIRO não conseguiu “captar a mensagem”.
Um verdadeiro cabeça de ovo.
Já na matemática, é possível alcançar a Verdade sem precisar ser um iluminado simplesmente porque a matemática só existe na mente, não passa pelos sentidos. Agora, se você não aprendeu como chegar ao resultado certo de um cálculo é porque você não pensou direito o seu próprio pensamento, afinal a matemática só existe no campo ideal.
Conclusão: Nada nesse mundo (físico) é Verdade. A única Verdade existente é aquela do campo das idéias, que no caso das relações humanas até hoje não conseguimos compreender realmente cada conceito (Justiça, Amor, Paz, etc). A única coisa Verdadeira que conseguimos experimentar em sua totalidade são as ciências exatas.
Se você, assim como eu, não serve pra fazer a conta mais primária, isso significa que não conseguimos pensar direito nosso próprio pensamento. E o que podemos esperar de quem não pensa direito o próprio pensamento??
Que passem o domingo tentando entender Platão!
AS PESSOAS NÃO EXISTEM NO MUNDO REAL COMO IMAGINO? FOI MEU PENSAMENTO QUE OS CRIOU E SÓ EU EXISTO NESTE MUNDO? OU TODOS NÓS NÃO EXISTIMOS? OU AINDA, SERÁ QUE É COMO PENSO: "TODOS PENSAM QUE TODOS PENSAM QUE TODOS EXISTEM?" E SE EU NÃO EXISTO E IMAGINAM QUE EXISTO?
ResponderExcluirMEU DEUS! PRECISO PENSAR NISSO.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeu caro Anônimo!
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria que se identificasse da próxima vez que tiver algum comentário a fazer, porque me sinto desconfortável em “trocar uma idéia” com alguém que não se identifica.
Sei que a timidez muitas vezes é um grande problema, e que muitas pessoas tem dificuldade em aceitar o próprio nome. Realmente entendo que é difícil superar alguns traumas, mas tente vencer essa sua limitação da próxima vez. É algo que fará bem pra você e também pra mim. Ok??
Bom, vamos lá tentar pensar juntos.
A Teoria das Formas nos diz que tudo o que há é uma sombra da Idéia, do Conceito geral. Ou seja, o que existe no material só existe por conta do ideal. Ou ainda, que a Realidade, o objeto Verdadeiro, só existe no ideal, visto que é essa Idéia que faz o objeto concreto ser.
Exemplo: você vê diversas cadeiras no mundo, de várias formas, cores, texturas, cheiros (por que não?) e no entanto sabe que todas são cadeiras, por quê?? Porque existe uma Idéia, um conceito aí dentro da sua cabecinha que reúne todas as características de uma cadeira, que é a Cadeira Perfeita, a cadeira de Verdade, que esgota todas as possibilidades das cadeiras do mundo (!).
Assim acontece com tudo o que há.
Em se tratando do Ser humano (que nem sempre é tão humano assim), Platão dizia que somos constituídos por duas partes: o corpo e a alma. A alma é eterna, divina, imutável, perfeita, pertencente a esse plano Verdadeiro. Enquanto o corpo, bem... O corpo é isso que todos conhecemos: algo que nasce, cresce e morre; imperfeito e mutável (justamente por ser imperfeito). Assim, caro Anônimo, VOCÊ EXISTE!! Olha que coisa boa (ou não). Você existe porque tem em si essa capacidade de ser eterno, perfeito, enfim, Verdadeiro. Você possui uma alma e essa alma é Divina, o que permite com que você tenha em si a Idéia da Verdade que é a origem desse mundo físico (que é apenas a sombra do mundo Ideal, o mundo Verdadeiro). Você tem em si a Verdade de si mesmo (!).
Bom, essa é a forma como eu entendi o pensamento de Platão. Você concorda comigo?
=)
Abraço!